domingo, 16 de dezembro de 2018

Reflexões de Inverno...


Com o aproximar do final do ano sentimos o adensar do Inverno, os dias bem mais curtos, nebulosos e frescos. Estamos a chegar ao culminar da fase Yin[1] no ciclo das estações onde domina o elemento água.

À medida que a natureza se despede do seu colorido, somos confrontados com a simplicidade e essência do que fica depois que se desprendem os galardões e a glória de outras estações. Este despojar-se do que não necessitamos para nutrir a nossa essência e o potencial que está dormente em nós, que surgirá na “primavera”, é a simbologia do Inverno.

Segundo a medicina Tradicional Chinesa esta estação do ano está associada aos Rins e Bexiga e ao elemento Água. O elemento Água nutre e lubrifica os ossos e articulações. Os Rins são o órgão que guarda a nossa essência (recebida dos nossos pais no momento da concepção) e vitalidade. Dos Rins recebemos o impulso para crescer, prosperar e evoluir, e também amadurecer e envelhecer graciosamente. A virtude que nos transmite é a da sabedoria e o poder da coragem e força de vontade para seguirmos o nosso propósito de vida.

O excesso de trabalho, o stress e as noites sem dormir esgotam a nossa energia e vitalidade debilitando a energia dos Rins e Bexiga, por isso experimentamos rigidez muscular e articular, em particular dores na zona lombar, entre vários outros sintomas.

O espírito da água com a sua fluidez, que toma a forma de qualquer recipiente mantendo sempre a sua natureza intrínseca, ensina-nos a fluir com as experiencias da vida e a contornar os obstáculos e dificuldades, encontrando o caminho de menos resistência (que em Taoismo é referido como wu-wei[2]), ao mesmo tempo mantendo-nos conscientes da nossa verdadeira natureza.

As noites longas e a escuridão do Inverno recordam-nos que também na escuridão está o potencial e dele nasce a vida, como das profundezas da terra surge a vegetação e do vazio do espaço as estrelas. Assim, também dos momentos mais obscuros e difíceis das nossas vidas por vezes surge o passo decisivo numa nova direcção, a oportunidade de realizar um sonho ou simplesmente a claridade para entender e a compaixão para aceitar. E as luzes que iluminam esta época do ano são testemunho de que mesmo na escuridão (yin) está sempre a luz (yang) que nos guia no nosso caminho.

Que cultivemos nesta estação as nossas qualidades Yin (descanso, tranquilidade, reflexão, receptividade…) com compaixão, aceitação. E se por acaso, no bulício desta época do ano nos sentimos sobrecarregad@s e sem “ver a luz ao fundo do túnel”, podemos oferecer-nos a dádiva de confiar no desconhecido e ver para onde nos leva :)


[1] A energia Yin caracteriza-se por ser de natureza mais fresca, húmida, lenta, calma, introspectiva e receptiva. Enquanto que a energia Yang manifesta qualidades opostas (mas não antagónicas!), quente, seca, rápida, extrovertida e activa.
[2] A arte de fluir & a lei domenor esforço (sobre o conceito de wu-wei)


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