Com o aproximar do final do ano sentimos o adensar do
Inverno, os dias bem mais curtos, nebulosos e frescos. Estamos a chegar ao
culminar da fase Yin[1] no ciclo das
estações onde domina o elemento água.
À medida que a natureza se despede do seu colorido, somos
confrontados com a simplicidade e essência do que fica depois que se desprendem
os galardões e a glória de outras estações. Este despojar-se do que não
necessitamos para nutrir a nossa essência e o potencial que está dormente em
nós, que surgirá na “primavera”, é a simbologia do Inverno.
Segundo a medicina Tradicional Chinesa esta estação do ano
está associada aos Rins e Bexiga e ao elemento Água. O elemento Água nutre e
lubrifica os ossos e articulações. Os Rins são o órgão que guarda a nossa
essência (recebida dos nossos pais no momento da concepção) e vitalidade. Dos
Rins recebemos o impulso para crescer, prosperar e evoluir, e também amadurecer
e envelhecer graciosamente. A virtude que nos transmite é a da sabedoria e o
poder da coragem e força de vontade para seguirmos o nosso propósito de vida.
O excesso de trabalho, o stress e as noites sem dormir
esgotam a nossa energia e vitalidade debilitando a energia dos Rins e Bexiga,
por isso experimentamos rigidez muscular e articular, em particular dores na
zona lombar, entre vários outros sintomas.
O espírito da água com a sua fluidez, que toma a forma de
qualquer recipiente mantendo sempre a sua natureza intrínseca, ensina-nos a
fluir com as experiencias da vida e a contornar os obstáculos e dificuldades,
encontrando o caminho de menos resistência (que em Taoismo é referido como wu-wei[2]), ao mesmo
tempo mantendo-nos conscientes da nossa verdadeira natureza.
As noites longas e a escuridão do Inverno recordam-nos que
também na escuridão está o potencial e dele nasce a vida, como das profundezas
da terra surge a vegetação e do vazio do espaço as estrelas. Assim, também dos
momentos mais obscuros e difíceis das nossas vidas por vezes surge o passo
decisivo numa nova direcção, a oportunidade de realizar um sonho ou
simplesmente a claridade para entender e a compaixão para aceitar. E as luzes que iluminam esta época do ano são testemunho
de que mesmo na escuridão (yin) está
sempre a luz (yang) que nos guia no
nosso caminho.
Que cultivemos nesta estação as nossas qualidades Yin
(descanso, tranquilidade, reflexão, receptividade…) com compaixão, aceitação. E
se por acaso, no bulício desta época do ano nos sentimos sobrecarregad@s e sem
“ver a luz ao fundo do túnel”, podemos oferecer-nos a dádiva de confiar no
desconhecido e ver para onde nos leva :)
[1]
A energia Yin caracteriza-se por ser
de natureza mais fresca, húmida, lenta, calma, introspectiva e receptiva.
Enquanto que a energia Yang manifesta
qualidades opostas (mas não antagónicas!), quente, seca, rápida, extrovertida e
activa.
[2]
A arte de fluir & a lei domenor esforço (sobre o conceito de wu-wei)
Outros "posts" sobre a simbologia desta estação do ano: